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Além de comemorar o retorno ao trabalho, os trabalhadores anistiados da Conab de Goiás poderão requerer, na Justiça, a contagem do período de tempo em que ficaram afastados para fins de aposentadoria. “O estudo da viabilidade desta ação será uma das prioridades da assessoria jurídica do sindicato”, garantiu seu presidente, Ademar Rodrigues. O encaminhamento foi um dos resultados da Plenária de Delegados de Base realizada pelo Sintsep/GO na última sexta-feira, 13 de junho, no auditório do Colégio Emmanuel.

Cerca de 200 servidores públicos federais – de 11 órgãos – representaram quase 50 municípios goianos na plenária, que teve como destaque a análise de conjuntura realizada pelo pesquisador e professor de história da UFG (campus de Catalão), Dr. Cláudio Maia e pela coordenadora do Dieese em Goiás, Leila Brito.

“A exposição e o debate que se construíram em torno da análise de conjura foi bastante esclarecedor. Ao mesmo tempo em que foram apresentados os números do crescimento brasileiro, cuja economia vive um bom momento, a análise do que tem sustentado esses números traz uma perspectiva assustadora para o futuro do funcionalismo público brasileiro”, avaliou Márcia Jorge, diretora de Formação do Sintsep/GO.

Tempos incertos
Para o professor Cláudio Paiva, embora os números do crescimento econômico apresentem um bom momento para o Brasil, a análise histórica da sustentação deste crescimento não traz boas perspectivas. “Hoje nós vivemos tempos incertos. E, por conta disso, os dados apresentados não podem mais ser analisados de forma isolada. É preciso analisar o crescimento brasileiro no contexto do papel que a América Latina tem assumido perante o resto do mundo e do novo cenário econômico que desponta, com a China e a Ásia desbancando a economia norte-americana”, disse.

Cláudio explicou que a opção política de crescimento adotada pelo Brasil, embora não pareça, é extremamente dependente da economia externa. “Há estudos que comprovam que, tanto o Brasil quanto a América Latina, estão hoje mais dependentes da economia externa do que nos anos 80. Isso com um agravante: houve uma redução do crescimento industrial em nosso continente. O que tem impulsionado esse crescimento são as ‘comodities’ (recursos naturais e minerais negociáveis) e a exportação de produtos primários. Praticamente não há industria nacional produzindo bens de valor agregado para consumo interno, muito menos para exportação”, afirmou.

Para Paiva, esse conjunto de fatores apresenta um cenário ruim para o país, futuramente. “Continuamos praticando o que está na cartilha de Washington. Vocês podem observar que o governo tem buscado trazer para o funcionalismo público as mesmas características do setor privado. A ascensão da China como grande economia do mundo acentua ainda mais esse processo: lá o trabalho é totalmente desregulamentado – é quase uma escravidão – e não há como competir com isso. Começa a surgir de novo a questão da inflação. Mas a nossa inflação não é interna, é de dependência externa, a maioria dos produtos consumidos é importada, não é produzido aqui”, explicou.

Para ele, caso o Brasil não altere sua trajetória política, e seu modelo de crescimento, será difícil evitar um colapso a médio e longo prazo. “O governo vive um dilema e, um exemplo disso, é a área ambiental. Fala-se tanto em proteção às florestas e em crescimento sustentável. Mas, se o que tem sustentado esse crescimento é justamente o consumo dos nossos recursos naturais (renováveis e não renováveis), como garantir essa sustentabilidade para o país?”, questionou.

Para o professor, o significado de toda essa análise é que é preciso fazer, no Brasil, um novo sindicalismo. “O trabalhador brasileiro não pode mais fazer sindicato como na década de 80. É preciso analisar as causas e conseqüências dos acordos e das ações políticas não somente à curto prazo, mas a médio e longo prazo. É preciso enxergar cenários futuros, ler atrás dos números, e ver para onde o caminho aponta. As negociações coletivas, atualmente, devem ser muito mais do que tabelas salariais. Devem discutir direitos e até o direcionamento das políticas sociais e econômicas. A ação sindical contemporânea deve extrapolar os dilemas do local de trabalho, e deve tentar abarcar a complexidade das relações no mundo do trabalho num cenário mundial. A luta hoje se faz em âmbito local e internacional: são contextos indissociáveis”, disse.

Luta contra a política neo-liberal
Para a diretoria do Sintsep/GO, a analise de conjuntura deixou bastante claro que o grande inimigo do trabalhador brasileiro continua sendo a opção político-econômica pelo neo-liberalismo. O que gerou, inclusive, um outro encaminhamento. “Os trabalhadores reforçaram a atuação do sindicato contra todos os projetos de lei existentes no Congresso – bem como contra todas as medidas políticas e econômicas – que apontem para a flexibilização das relações de trabalho, para a perda de direitos trabalhistas (públicos ou privados) e para um crescimento depredatório, que não garanta um país sustentável para as próximas gerações”, ratificou Ademar.