Discursos geram polêmica, mas colocam grande ponto de interrogação quando o assunto é apresentar propostas em direção a melhoria na economia e um projeto de País. Faltam ações para melhorar vida dos brasileiros, sobram ataques à classe trabalhadora

Em um evento sobre privatizações no BNDES, na sexta-feira (8), o ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, comparou estatais brasileiras a “filhos que fugiram e hoje são drogados”. A frase de efeito serviu para defender sua tese de que, por ele, todas as estatais do País deveriam ser privatizadas. Para a Condsef/Fenadsef, essa é mais uma fala polêmica, entre tantas que tem sido ditas por ministros da equipe de governo de Bolsonaro.

Guedes não chegou a citar nomes de estatais que estão na mira da privatização. Sabe-se, daqueles que correm risco. Empregados da Valec, estatal que está nessa lista, têm apontado a grande importância estratégica da estatal para a economia brasileira. Com o potencial para reduzir o chamado “Custo Brasil” que encarece produtos devido a dificuldade de transporte e monopólios do setor, a Valec poderia auxiliar no impulsionamento de nossa economia ampliando a malha ferroviária brasileira.

Estatais, como a Valec, Eletrobras que ano passado sofreu forte pressão nesse processo, Embraer, Embrapa, Ebserh, a própria Petrobras e outras tantas que possuem um valor estratégico para o Brasil e não podem ser atiradas ao mercado especulativo tendo isso como solução mágica para os problemas do País. Para a Condsef/Fenadsef é emblemático o exemplo da Vale. A então estatal foi privatizada num processo polêmico na década de 90, comprada muito abaixo do que realmente valia. Hoje, após décadas de lucros bilionários que ficaram nas mãos de poucos, está em evidência por acidentes de trabalho que ceifaram centenas de vidas de trabalhadores brasileiros, envolvida em crimes ambientais de grandes proporções.

É o Estado brasileiro quem arca nesse momento com o grande caos social e impactos decorrentes desses crimes ambientais cometidos pela Vale. Esse exemplo deveria ser suficiente para acender o alerta vermelho do governo brasileiro para o que representa ao País o modelo privatista.

Para onde vai o Brasil?
Até agora, ainda não se sabe quais serão os benefícios e se há de fato um projeto para o Brasil que não passe apenas pela retirada de direitos da classe trabalhadora. Além disso, restam pensamentos sobre gênero, ensino domiciliar e outras polêmicas já ditas pela ministra da Família, Damares Alves. Houve ainda ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, que chegou a comparar brasileiros a canibais quando estão viajando, pois roubam “coisas dos hotéis, o assento salva-vidas do avião”, isso para defender o retorno da disciplina moral e cívica em escolas, além de dizer que universidade não é para todos.

Na mesma data, o jornal O Estado de São Paulo, informou sobre um documento com mudanças na Política de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde, dando aval ao uso de eletrochoques. O MS reforçaria a possibilidade da internação de crianças em hospitais psiquiátricos. O texto prega ainda abstinência para o tratamento de dependentes de drogas. O presidente do Conselho Muncipal de Saúde chegou a classificar as medidas em relação à saúde mental do governo Bolsonaro como “um retorno à Idade Média”.

A Condsef/Fenadsef se preocupa com os rumos que o Brasil deve tomar nos próximos anos. A entidade espera que toda a equipe do governo Bolsonaro desça do palanque, deixe os discursos polêmicos e atue para que o Brasil não experimente um retrocesso nos avanços sociais recentes que a população experimentou. Até agora, os discursos polêmicos apenas têm colocado um grande ponto de interrogação no que se deve esperar do governo Bolsonaro.

“Faltam ações para melhorar vida dos brasileiros, sobram ataques à classe trabalhadora”, destaca Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação. “Esperamos que as polêmicas abandonem os discursos e ações concretas passem a ser tomadas sem que a classe trabalhadora seja o único alvo de políticas que retiram direitos e enquanto devolvem milhões de brasileiros à condição de miséria da qual já haviam saído”, comenta.

Fonte: Condsef/Fenadsef