23% dos profissionais de enfermagem mortos por Covid-19 no mundo são brasileiros. É neste contexto que empregados da Ebserh, em Goiás, protestaram nesta quarta-feira, 31 de março, pela manhã, em frente ao Hospital das Clínicas, por melhores condições de trabalho, contra a tentativa da empresa em reduzir os vencimentos dos trabalhadores

Parece inacreditável, mas trabalhadores da Saúde da Ebserh em Goiás, em plena pandemia, estão precisando protestar para que a empresa não diminua os seus salários. Em meio às negociações do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2020/2021 da categoria, que se encontra em processo de mediação pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), a empresa divulga que ofereceu “a toda categoria” um reajuste linear de R$ 500. O que ela não divulga, no entanto, é que condicionou o aceite do valor à diminuição do pagamento da insalubridade da maioria dos trabalhadores da área fim, modificando a base de cálculo do vencimento básico para o salário-mínimo.

De acordo com dados oficiais, isso representaria perda de salário para 86,11% dos trabalhadores celetistas da Ebserh, da área fim, o que corresponde a 25.198 profissionais em todo o país. Com isso, o ‘reajuste linear’ ofereceria alguma recomposição salarial a apenas 13,89% dos empregados, o que representa 4.064 trabalhadores – que, ou não recebem insalubridade, por serem de áreas administrativas (algo que em um ambiente hospitalar é questionável), ou foram contratados já com o percentual de insalubridade calculado sobre o salário-mínimo, em concursos e processos seletivos posteriores.

“Aceitar a proposta da empresa, na prática, significaria aceitar redução salarial, algo que é vedado tanto pela CLT quanto pela Constituição Federal. Se eles tentarem fazer isso à nossa revelia, porque nós não vamos aceitar, serão levados à Justiça”, aponta o vice-presidente do Sintsep-GO e diretor da Condsef/Fenadsef, Gilberto Jorge Cordeiro Gomes.

Por conta do impasse, com a recusa da proposta por parte dos trabalhadores, a empresa prorrogou novamente a validade do atual acordo coletivo por mais 30 dias. No entanto, durante esse período, a Ebserh tem buscado desgastar emocionalmente os trabalhadores, divulgando um vídeo institucional com o suposto “reajuste”, escamoteando os prejuízos que a maioria dos trabalhadores da Saúde teriam, caso aceitassem. Além disso, a empresa semeia a divisão entre os trabalhadores – que é o que a proposta representa, em sua essência.

No entanto, o recado dos trabalhadores da Ebserh Goiás é claro: “Trabalhadores da Saúde pela VIDA, contra a política de MORTE e de redução de salários da Ebserh!”.

Pandemia x trabalhadores exaustos
De acordo com levantamento do Conselho Internacional de Enfermagem (ICN), que analisou 60 de 130 países, 3 mil profissionais de saúde morreram com complicações da Covid-19 em um ano de pandemia no mundo. No Brasil, em 365 dias, esse número foi de 702 enfermeiros, enfermeiras, auxiliares e técnicos e técnicas de enfermagem, em levantamento feito pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Só entre janeiro e março deste ano, morreram 234 profissionais de enfermagem. Esse número representa metade dos 468 óbitos em todo ano de 2020 no Brasil.

Em termos percentuais, na linha de frente do combate à Covid-19, os profissionais de enfermagem mortos pela doença no Brasil equivalem a 23% dos óbitos na categoria no mundo.

Para os que resistem, cansaço e esgotamento – físico, psíquico e emocional – são as palavras de ordem. De acordo com os resultados da pesquisa “Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19”, feita pela Fundação Oswaldo Cruz, a pandemia alterou de modo significativo da vida de 95% desses trabalhadores e quase 50% admitiram excesso de trabalho ao longo desta crise mundial de saúde, com jornadas para além das 40 horas semanais.

“A pergunta que não calar é: como é que uma empresa brasileira, que gerencia os hospitais públicos federais do país, faz isso com os trabalhadores da Saúde, que estão absolutamente exaustos, em plena pandemia?”, questiona o diretor da Condsef/Fenadsef.

No ato, além da manutenção dos direitos adquiridos, os trabalhadores cobraram ainda do governo que acelere os protocolos de vacinação para todos, para que o país retome a normalidade o mais rápido possível: “VACINAÇÃO PARA TODOS JÁ! Trabalhadores da Saúde e população merecem respeito e dignidade!”.