Dia Mundial da Saúde ou sobre quando perdemos a dignidade no morrer
De acordo com a Universidade de Washington DC, o Brasil ultrapassará o quantitativo de meio milhão de mortos em função da Covid-19 até o dia 1º de julho. Apenas em abril, estima-se 100 mil mortes. O estudo, coordenado pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da instituição, também vem ao encontro da opinião de especialistas brasileiros, cuja curva de letalidade aponta de 4 a 5 mil mortos por dia, nos meses de abril e maio.
Neste Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, celebrado desde a década de 1950 por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), a população brasileira passa por uma das maiores tragédias sanitárias de sua história. Uma tragédia anunciada e prevista por diversos especialistas, nacionais e internacionais, mas fomentada, de maneira pública e aberta, por aquele que deveria ser responsável – em todos os níveis – pela liderança em seu combate e mitigação: o presidente da República.
Bolsonaro passa pela crise como se não fosse com ele. Como se não fosse ele o presidente e, por suas ações – e sobretudo por suas omissões – o maior responsável pelo quadro que hoje se instala. Garoto propaganda do vírus, suas atitudes negacionistas constituem forte estímulo ao contágio. Mentiroso contumaz quando às suas consequências e supostos “tratamentos”, sua atuação à frente do cargo – em qualquer país sério – já o teria banido não somente da presidência ou do exercício de qualquer cargo público; já o teria levado a prisão ou, na melhor das hipóteses, a uma interdição psiquiátrica.
Em contrapartida, os Estados Unidos, que também enfrentam a pandemia, têm em seu atual presidente, Joe Biden, um estadista que demonstra estar ao lado de sua população. Seu programa para injetar US$ 4 trilhões na economia americana nos próximos anos inclui medidas como o aumento de impostos pagos por grandes empresas e por milionários. Para o 1% mais rico da população, Biden aumentou os impostos de 29,7% para 41,7% da renda. Para o 0,1% mais rico, a taxação foi de 30,4% para 46,7%.
Na ponta das despesas do governo, haverá um incremento de US$ 111 bilhões em água potável, US$ 100 bilhões em banda larga ultrarrápida, US$ 213 bilhões em habitação, US$ 137 bilhões em escolas públicas, US$ 300 bilhões em pequenos negócios, US$ 174 bilhões em veículos elétricos, US$ 180 bilhões em pesquisa científica, entre outros setores.
Aqui, no entanto, os economistas brasileiros “formados” nos Estados Unidos nas últimas décadas defendem o congelamento quase perene de gastos públicos, o esvaziamento do Estado e a perca de sua capacidade de investimento.
Enquanto parte da população apoia o genocida – tornando-se cúmplice, por sua vez – e parte vive com Bolsonaro sua síndrome de Estocolmo, uma ampla parcela do país agoniza e morre sem vacinas, sem direito a despedidas, sem cerimônia, “sem mimimi”. Não bastasse um presidente que nos tirou a alegria e a dignidade de viver, este – em meio ao desprezo alardeado – sorri, faz chacota e alimenta, obstinadamente, a conjuntura que nos priva da dignidade no morrer. E após tantos sétimos palmos de terra, a fundura do nosso poço já não se contabiliza mais em metros. Sim, nós chegamos lá, e não paramos.
#WeCantBreathe
#ForaBolsonaro
Que no próximo dia 7 de Abril nós tenhamos algo a comemorar no Dia Mundial da Saúde.
Sintsep-GO