Diretora da Condsef/Fenadsef e do Sindsep-MG, Jussara Griffo, esteve na região próxima a barragem do Feijão, em Brumadinho e relata o que viu. Ela critica privatização e modelo de Estado mínimo, políticas prioritárias desse governo

Quando se chega à cidade de Brumadinho, a menos de 60 quilômetros de Belo Horizonte, capital mineira, parece que as pessoas estão anestesiadas. Foi a impressão relatada pela diretora da Condsef/Fenadsef e do Sindsep-MG, Jussara Griffo, que esteve ontem, 28, na cidade próxima a barragem do Feijão que se rompeu na última sexta-feira, 25, deixando já 65 mortos e ainda 279 desaparecidos. Griffo conversou com representantes locais, pessoas que tem contato com produtores rurais da região e o que ouviu é que a maioria tem obtido informações mais da imprensa do que dos responsáveis da Vale. “Está faltando acolhimento aos atingidos. É do que mais precisam agora”, disse Griffo.

Há duas listas de desaparecidos e as pessoas relatam uma dificuldade imensa de incluir nomes de seus familiares nessas listas. Uma é exclusiva para funcionários da Vale. Na outra ficam moradores da região, trabalhadores rurais, funcionários de pousadas, moradores da região, todos afetados pelo crime ambiental provocado com o rompimento da barragem. No domingo, 27, a Funai (Fundação Nacional do Índio) enviou servidores a Brumadinho para auxiliar famílias indígenas que vivem em uma aldeia próxima (foto). Repleto de rejeitos e metais pesados, o rio Paraopeba, de onde essas famílias retiravam seu sustento, está contaminado. A situação não prejudica apenas essa comunidade indígena, mas milhares de outras pessoas que vivem em cidades que dependem do rio para abastecimento de água potável.

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Críticas à privatização e Estado mínimo
Para Griffo, as consequências trágicas de mais um crime ambiental envolvendo a Vale, privatizada na década de 90 pelo governo FHC, mostram que o modelo privatista e que defende o Estado mínimo é visivelmente equivocado. Os principais responsáveis por atender a população atingida e as vítimas dessa tragédia são servidores públicos. Sejam servidores do SUS essenciais nos primeiros resgates e atendimento aos feridos, os bombeiros, fundamentais e verdadeiros heróis que tem arriscado a vida para dar dignidade às vítimas e suas famílias, servidores do Ibama que mesmo criticados pelo presidente ainda durante a campanha presidencial, aplicaram multa inicial de R$ 250 milhões à Vale.

Vale destacar ainda os servidores da Funai que ouviram dos índios que representantes da empresa Vale nunca estiveram na aldeia. Servidores da Justiça do Trabalho ou mesmo do Ministério do Trabalho que apesar de extinto pelo presidente Bolsonaro podem e devem assegurar direitos dos trabalhadores afetados, incluindo acesso ao FGTS, fiscalizando situação dos locais de trabalho, entre outras funções importantes para a sociedade. Pesquisadores da UFMG que desenvolvem tecnologia que transforma rejeitos de barragem em material para construção civil também devem ser lembrados nesse contexto. “Há uma lista enorme de profissionais do setor público aplacando o imenso ônus dessa tragédia”, destaca Jussara. “Servidores que estão a serviço da sociedade brasileira, alguns em Minas com seus 13os e salários atrasados, mas dando o melhor que podem para atender a população que paga impostos para terem serviços essenciais atendidos”, acrescenta.

Para a Condsef/Fenadsef e todas as suas entidades filiadas é urgente discutir que modelo de Estado a sociedade brasileira anseia. A Constituição prevê o direito de acesso a serviços essenciais. Defendendo políticas neoliberais que impõe um modelo de Estado mínimo, o governo eleito vai na contramão do que prevê a Constituição. A Emenda Constitucional (EC) 95/16, aprovada durante governo Temer, e que congela investimentos no setor público por 20 anos deve agravar esse cenário. Especialistas apontam para os riscos dessa emenda e mostram que um colapso pode acontecer no Brasil nos próximos dois anos caso a EC 95 não seja revogada.

Promover o sucateamento do setor público é colocar a população brasileira a mercê de setores privados que priorizam o lucro antes do bem estar social. É contra essa tendência que a classe trabalhadora deve se unir. A Condsef/Fenadsef e suas filiadas que sempre estiveram na linha de frente em defesa do setor público seguem mais do que nunca unidas nesse propósito.

Fonte: Condsef/Fenadsef e TVT (vídeo)
Foto: Lucas Hallel/ASCOM/FUNAI