Ajudado pela mídia que reforça estereótipo do “servidor privilegiado”, governo usa categoria para justificar política econômica que impõe austeridade, desacelera econômica e piora a crise brasileira, enquanto atacam direitos e renda dos trabalhadores

“Tiveram tanto aumento, está na hora de dar uma descansadinha” – Essa foi uma das declarações dadas nessa quinta-feira, 10, pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a respeito da intenção de travar salários de servidores públicos. A Condsef/Fenadsef, que representa a maioria dos servidores do Executivo Federal, que estão com seus salários congelados já há dois anos, repudia a postura adotada por esse governo de usar servidores e o serviço público para legitimar sua política de austeridade e destruição do País. Sinais que estão sendo comemorados de modo equivocado, como o caso da deflação de 0,04% registrada em setembro, têm alertado para os efeitos perversos desse modelo econômico. “Não tem plano B”, disse Bolsonaro sobre o ministro da Economia. Outra declaração que preocupa. Uma deflação, apontam especialistas, pode ser reflexo do desaquecimento do mercado interno e desaceleração da economia. 

Brasileiros que estão com menos renda disponível e tendo seus direitos cada vez mais atacados e ameaçados devem ficar alertas. “Desse jeito que aí está, dificilmente esse cenário de crise se reverte em pouco tempo e por mais que o governo e a mídia se esforcem para nos denominar culpados, a sociedade pode ter uma certeza que os servidores não são os responsáveis por essa crise, ao contrário, são vários os especialistas que apontam o investimento público como uma das saídas viáveis para reaquecer a economia brasileira”, destaca o secretário-geral da Confederação, Sérgio Ronaldo da Silva.

Generalizar privilégios é desserviço
Ontem, no Jornal Nacional, uma reportagem também gerou indignação da categoria trazendo dado do Banco Mundial dizendo que o Brasil gasta 10% de seu PIB com salário de servidores. A matéria ainda destacava que 44% dos servidores ganhariam mais que R$10 mil. “Essa certamente não é a realidade do Executivo Federal onde cerca de 60% dos servidores, entre ativos e aposentados, não ganham mais de R$9 mil”, afirma Sérgio. Os dados podem ser comprovados no Portal da Transparência e também nos registros e dados oficiais do próprio governo. “Não podemos admitir que se jogue a sociedade contra os servidores públicos como há anos se vem fazendo”, comenta Sérgio Ronaldo. “Apresentar dados que reforçam esse preconceito e que não encontram respaldo na realidade é um desserviço que se presta ao Brasil”, lamenta o secretário-geral.

Ainda em declarações de hoje, Guedes questiona se não é hora de “disparar algum gatilho que trava esses salários por um ou dois anos”. Pois a Condsef/Fenadsef aponta que a Emenda Constitucional (EC) 95/16, que promove o congelamento de investimentos públicos por duas décadas, vem justamente cumprindo esse papel para o governo e sendo usada para negar qualquer reposição salarial, nem mesmo em benefícios como auxílio-alimentação, a servidores. Vale destacar ainda que os aumentos acima da inflação mencionados pelo ministro fizeram parte, especialmente no Executivo, de um contexto onde servidores vinham de oito anos de salários congelados com perdas acumuladas que ultrapassaram 200% dependendo da carreira. “As reposições ocorridas nos últimos dez anos foram fruto de muita luta e mobilização por parte de servidores e também de uma conjuntura onde houve a instalação de um processo de negociação permanente”, pontuou Sérgio. 

A negociação coletiva é, inclusive, um direito até hoje não regulamentado e negado aos servidores públicos. Sem garantias de negociação, servidores voltam a correr o risco de reviver os chamados “anos de chumbo” como ficaram conhecidos os anos de governo neoliberal conduzidos por FHC. A política de austeridade retorna ao cenário brasileiro mostrando mais uma vez sua incapacidade de reaquecer economia já que está instalada especialmente desde o fim de 2016 quando Michel Temer foi conduzido à Presidência com o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff. “Retiraram direitos e não conseguiram aumentar empregos como prometeram, agora miram em nossas aposentadorias e seguem dando tiros no pé, escolhendo alvos errados para atacar a crise. Seria muito importante que houvesse um plano B”, comentou Sérgio.

Generalizar dados é desserviço, alerta Confederação (Foto: Reprodução/Globo)

Reação
Para reagir a tantos ataques, a Condsef/Fenadsef convoca os servidores de sua base, maioria do Executivo para uma atividade em defesa dos serviços públicos e dos servidores no próximo dia 30. “Não podemos aceitar que o governo nos eleja como inimigos, nos imponha ataques de toda natureza, incluindo assédio moral e perseguição a servidores sem reagir”, argumenta Sérgio. “Vamos nos organizar e reforçar a mobilização e garantir a unidade que um momento como esse historicamente nos exige”, aponta. Em seus quase 30 anos, a Condsef/Fenadsef sempre trabalhou e seguirá na linha de frente na luta e defesa da valorização do papel do servidor público junto a sociedade e para desmistificar o caráter de inimigos que querem imputar. 

Fonte: Condsef/Fenadsef